“Uma infiltração da NATO na Ásia–Pacífico vai provavelmente levar a civilização ocidental a enfrentar reveses sem precedentes na região economicamente mais vibrante do mundo”, lembrou o Global Times, jornal de língua inglesa do grupo do Diário do Povo, o órgão central do Partido Comunista (PCC).

“A China não pode permitir que as forças militares ocidentais interfiram de forma alguma nos seus assuntos internos”, lê-se no editorial, em que acrescenta que Pequim “tem já a capacidade de combater tal interferência”.

Durante a cimeira da NATO que arranca terça-feira em Vílnius vai ser abordada a implementação do Conceito Estratégico adoptado em 2022. O documento reconheceu que a aliança enfrenta uma “competição sistémica” suscitada pelas “ambições e políticas coercivas” de Pequim, que desafiam os “interesses, segurança e valores” dos seus membros.

Austrália, Japão, Nova Zelândia e Coreia do Sul, que participaram na cimeira da NATO no ano passado, vão estar presentes em Vílnius.

Em particular, a organização está a estudar a abertura de um escritório no Japão, país que mantém rivalidades históricas e disputas territoriais com a China. O Presidente francês, Emmanuel Macron, manifestou-se já contra, afirmando que a medida seria um “grande erro”.

As diferentes visões entre os aliados face à China são também motivadas pela relevância dos laços comerciais entre o país asiático e a Europa: a China representa quase 10% das exportações do continente e cerca de 20% das suas importações.

O Global Times lembrou, porém, que as divergências existentes dentro da NATO “não são fundamentalmente sobre se [a organização se deve] expandir ou não, mas sim sobre que tipo de expansão prosseguir, e se este processo deve ser mais lento ou mais rápido”.

O jornal afirmou que existe uma “mudança” na política tradicional da NATO, fundada com foco na defesa, à medida que “um número crescente de países membros e líderes demonstram uma ambição mais forte em relação à expansão”.

Os líderes da aliança transatlântica alertaram já que o que está a acontecer na Europa com a guerra na Ucrânia pode replicar-se na Ásia, com uma invasão de Taiwan pela China.

China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. Pequim considera Taiwan parte do seu território e ameaça a reunificação através da força, caso a ilha declare formalmente a independência.

“Se o Presidente [russo], [Vladimir] Putin, vencer na Ucrânia, isto enviaria a mensagem de que regimes autoritários podem atingir os seus objectivos por meio da força bruta”, disse o secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg, em Tóquio, no início deste ano. “Isto é perigoso. Pequim está a observar de perto e a aprender lições, o que pode influenciar as suas decisões futuras”, observou.

Para o Global Times, no entanto, “a agressividade da NATO não é apenas uma expansão da dissuasão militar, mas também uma expansão de valores”.

“A expansão da civilização ocidental é, até hoje, inseparável da sua natureza agressiva e ofensiva”, lê-se no editorial. “Quando desafiados, os elementos agressivos da sua natureza tornam-se mais ativos e proativos”, apontou.