A Fidelidade, Generali Tranquilidade, Mapfre e Ageas são algumas das seguradoras com oferta de seguros para animais em Portugal e dão conta de taxas de crescimento rápidas, mas ainda de uma adesão baixa tendo em conta a quantidade de lares portugueses com animais de estimação.
“Temos à data de hoje [final de julho] uma carteira com 82.000 apólices em vigor, e um crescimento sustentado na ordem dos 50%”, revelou a Fidelidade, que opera neste mercado já há vários anos, mas lançou um seguro mais completo e integrado em 2018.
Já a Generali Tranquilidade, desde 2022 até ao momento, regista um volume de apólices que aumentou “quase 50%, representando já mais de um milhão de euros”, referiu fonte oficial.
A Ageas Portugal, que começou em 2009, conta com “aproximadamente 20.500 apólices de seguros para animais de estimação, distribuídas pelos seguintes canais: Bancassurance, através da marca Ocidental (55%); Agentes e Corretores, através da marca Ageas Seguros (37%); e diretamente em petis.pt (8%)”. Este ano, registou “um crescimento de 41% no número de novas apólices”, segundo Bruno Vaz - responsável pela oferta Não Vida do grupo.
A Mapfre, por sua vez, entrou no mercado dos seguros para animais em 2011, contando atualmente com mais de 20 mil apólices, tendo crescido em média 20% ao ano. “Desde 2022 a nossa carteira tem-se mantido estável”, detalhou Carla Quinteiro, diretora técnica e de operações da Mapfre.
“Em termos de volume de prémios, no final de 2023, os seguros para animais de estimação do Grupo Ageas Portugal representavam aproximadamente 11% do ramo de Responsabilidade Civil”, indicou Bruno Vaz.
A Fidelidade, por sua vez, destacou que “mais de metade dos clientes deste produto são novos clientes na companhia (51%) e muitos adquirem o plano 3 [o mais completo e dispendioso], o que é um excelente indicador do potencial que este produto traz a vários níveis, quer do ponto de vista de renovação de carteira, quer de valor, pois são clientes potencialmente com maior poder de compra”.
Para a Mapfre, o peso deste ramo “é pequeno face ao volume total dos negócios”, disse Carla Quinteiro, destacando que “no mercado de seguros não vida português os seguros de saúde, automóvel e incêndio e Multirriscos (danos em coisas) têm um peso muito mais significativo”.
Espaço para crescer
As empresas que operam no mercado dos seguros de animais acreditam que o segmento tem muito espaço para crescer e estão a investir em negócios relacionados, incluindo de bem-estar e nutrição, adiantaram à Lusa.
Para a Fidelidade, este segmento “apresenta uma multiplicidade de oportunidades”, que a companhia reforçou com a aquisição da empresa Veterinários sobre Rodas, disse fonte oficial.
“Pretendemos promover sinergias, com maior integração entre os seguros para animais de companhia e as clínicas veterinárias, desenvolvendo uma oferta integrada”, assegurou a seguradora. Para o grupo, o futuro passa ainda pelo alargamento da atividade, “além da proteção da saúde, assegurada pelo seguro" para que "disponibilize outros serviços em áreas como a da adoção, nutrição, well-being [bem-estar]”.
A Generali Tranquilidade aponta, por sua vez, que “nos últimos anos, Portugal tem testemunhado um aumento significativo do número de pessoas que têm cães e gatos como animais de estimação e não existe um sistema público de saúde animal”, algo que, “aliado à preocupação crescente dos tutores com os seus animais” tem aumentado “a necessidade da contratação de seguros que possibilitem reduzir as despesas com cuidados de saúde animal em situações normais ou inesperadas, como acidentes e doenças graves ou prolongadas”.
Para a Mapfre, as análises e os estudos que levou a cabo quando lançou o produto apontam “para uma consciencialização muito maior da sociedade para o bem-estar animal”.
Segundo Carla Quinteiro, diretora técnica e de operações da seguradora, hoje, os animais de companhia são considerados pelos clientes “extensões da sua família, ou como fazendo parte dela”.
A responsável apontou que “este é um mercado em crescimento e com bastante margem para progressão”, mas que “há que ter em conta que atualmente a concorrência é muito maior porque quase todos os ‘players’ do mercado segurador estão presentes neste segmento”, obrigando a um “investimento maior na inovação, no desenvolvimento, na promoção e no posicionamento de novas soluções”.
Já a Ageas está a investir nesta área por “várias razões”, disse Bruno Vaz, responsável pela oferta Não Vida do grupo no mercado nacional.
“Portugal sempre teve uma elevada prevalência de domicílios com animais de estimação, e esse número continua a crescer. Os animais de estimação tornaram-se parte integrante das famílias, uma mudança que foi acentuada pela pandemia”, indicou, salientando que “os tutores estão cada vez mais preocupados com a saúde e o bem-estar dos seus animais”. Por isso, a empresa não só está a apostar no seguro de responsabilidade civil, mas também em “todas as vertentes que asseguram a sua saúde e bem-estar”.
Para a Generali Tranquilidade, “a penetração de seguros de saúde para animais de companhia ainda é relativamente baixa em Portugal, o que representa uma oportunidade substancial para as companhias de seguros”.
Bruno Vaz, da Ageas, tem uma opinião semelhante. “Apesar de Portugal ter uma elevada prevalência de domicílios com animais de estimação, a penetração dos seguros para animais domésticos ainda é reduzida”.
“Embora a comercialização de seguros de saúde para animais domésticos tenha começado há vários anos, este mercado ainda está pouco desenvolvido em Portugal. Os seguros para animais domésticos, no país, precisam de amadurecer e de uma maior literacia por parte dos tutores”, referiu, acrescentando que “é necessário atingir uma maior escala para que as seguradoras possam diferenciar e ajustar cada vez mais as suas ofertas às necessidades do mercado”.
A Generali Tranquilidade, por sua vez, referiu que “alguns tutores de animais ainda não estão familiarizados com este tipo de produto e, portanto, não veem a vantagem de adquirir o seguro”, reconhecendo que o desafio das empresas “é comunicar de forma clara as vantagens associadas”.
Por outro lado, segundo fonte oficial, “para as seguradoras o custo do seguro também pode ser um desafio, pois os clientes valorizam coberturas que contemplem os gastos com cuidados de saúde e dão preferência a ir ao veterinário que conhecem, o que torna desafiante criar uma oferta a um preço acessível para o orçamento mensal do cliente deste mercado-alvo”.
As recomendações da DECO: ler bem as apólices e consultar mais do que uma seguradora
A associação de defesa do consumidor Deco aconselha os consumidores a ler bem as apólices de seguros para animais de estimação, para não terem surpresas em relação às coberturas, e apela a uma maior transparência das seguradoras.
“Ainda temos poucas reclamações”, disse à Lusa o jurista da entidade, Diogo Martins, acrescentando que muitas se prendem com o facto de as “seguradoras dizerem que não cobrem determinada situação”, indicou.
O jurista destacou que, do ponto de vista do consumidor, é “sempre importante perceber o que é que se está a contratar” e saber que “existem várias coberturas”, que nem sempre cobrem as despesas que o cliente espera que fossem abrangidas.
Diogo Martins aconselhou ainda os tutores de animais a “consultar sempre mais do que uma seguradora” para encontrarem o que melhor se adequa às suas necessidades.
Para o jurista, na maioria dos casos, as apólices estão escritas em linguagem clara, mas a maioria das pessoas não leem as condições dos contratos.
Ainda assim, segundo Diogo Martins, quando há problemas, “as seguradoras não são transparentes, e têm de o ser, visto que, se estão a alegar algo, têm de o provar”, acrescentando que, muitas vezes, só dizem que o custo “não está coberto”, sem explicar porquê.
“Muitas vezes o que acontece é as pessoas terem que recorrer a livros de reclamações, e as seguradoras, ou qualquer outra entidade, são obrigadas a responder”, nestes casos com alguma profundidade, destacou.
O jurista da Deco pede uma “maior formação dos colaboradores nesse sentido, porque depois as pessoas acabam por perder a confiança e mudar de seguradora”.
“O seguro de saúde é importante porque, efetivamente, o único obrigatório é o seguro de responsabilidade civil e, mesmo assim, é só para aqueles cães potencialmente perigosos”, disse, mas lembrou que não existe Serviço Nacional de Saúde para animais e que a contratação de um seguro, sobretudo numa altura em que o animal ainda é saudável, pode ajudar no futuro a mitigar despesas.
“É preciso ter em atenção que, pelo facto de o animal estar ou ser saudável, não quer dizer que não possa acontecer alguma coisa no futuro”, alertou, acrescentando que “é muito mais difícil depois contratar um seguro de saúde para um animal quando já tem uma certa idade ou quando já tem certo tipo de problemas”.
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