Anne Barrett-Doyle, da plataforma ‘online’ Bishop Accountability (Responsabilização dos Bispos), citada pela Associated Press (AP), pediu que o Papa Francisco ordene uma “investigação completa e abrangente do caso Belo, incluindo funcionários da igreja passados e presentes, de todos os níveis e dicastérios [departamentos do governo da Igreja Católica que compõem a Cúria Romana] e de todas as regiões relevantes, de Timor Leste a Portugal e de Roma a Moçambique”.

O objetivo é determinar quem teria tido informações sobre casos de abuso sexual que possam envolver Ximenes Belo e quando teria sido informado.

Barrett-Doyle afirmou que os superiores salesianos de Ximenes Belo, bem como os funcionários do Vaticano, incluindo o Papa João Paulo II, que morreu em 2005, estariam envolvidos no afastamento do bispo suspeito de abusos sexuais da diocese de Díli, em Timor-Leste, em 2002, e nas transferências subsequentes.

“As afirmações do Vaticano de que soube das alegações [de abuso sexual] apenas nos últimos anos não passa no teste. É totalmente implausível”, disse Barrett-Doyle, numa mensagem de correio eletrónico, citada pela AP.

Também o porta-voz das Nações Unidas (ONU), Stephane Dujarric, apoiou uma investigação completa.

“As alegações são realmente chocantes e precisam de ser totalmente investigadas”, disse Dujaric à AP.

Na semana passada, o departamento do Vaticano que trata de casos de abuso sexual disse que tinha sancionado secretamente Ximenes Belo, em 2020, proibindo-o de ter contacto com menores ou com Timor-Leste, com base em alegações de má conduta que chegaram a Roma em 2019.

Naquele ano, o Papa Francisco aprovou uma nova lei da Igreja que exigia que todos os casos que envolvam altos dignitários da Igreja sejam relatados internamente e estabeleceu um mecanismo para investigar os bispos, que escaparam da responsabilização por abuso ou encobrimento, durante décadas.

No entanto, numa breve declaração depois de a revista holandesa De Groen Amsterdammer ter exposto o escândalo que envolve Ximenes Belo, citando duas das suas alegadas vítimas, o Vaticano não revelou o que as autoridades da Igreja poderiam saber antes de 2019.

Ximenes Belo ganhou o Prémio Nobel da Paz em 1996 com o colega ícone da independência timorense José Ramos-Horta, por fazer campanha por uma solução justa e pacífica para o conflito naquele país, de onde é originário, para obter a independência da Indonésia.

Em 2002, Ximenes afastou-se repentinamente do cargo de chefe da Igreja Católica em Timor-Leste, aos 54 anos, duas décadas antes da idade normal de reforma para os bispos, alegando motivos de saúde.

Atualmente, Ximenes Belo está em Portugal, onde os salesianos disseram que o acolheram a pedido dos seus superiores, mas o seu paradeiro não é claro, segundo alguns meios de comunicação.

Ainda não há indicação de que o Papa Francisco esteja disposto a autorizar uma investigação semelhante à de Theodore McCarrick, um ex-cardeal e ex-arcebispo católico americano, acusado de abusos sexuais.

No seio da comunidade católica de Timor-Leste não parece haver uma onda de indignação, como havia entre os católicos dos EUA em relação a McCarrick.

Pelo contrário, naquele país empobrecido e predominantemente católico, onde a Igreja tem uma forte influência, muitos demonstraram apoio a Ximenes Belo, apesar das alegações.

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