Na cerimónia, de mais de três horas de duração, estiveram presentes autoridades diplomáticas venezuelanas e políticos locais, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafôfo, e o presidente do Governo da Região Autónoma da Madeira, Miguel Albuquerque.
“É verdade, hoje é um sonho realizado. É uma grande alegria poder servir ao Senhor, pela mão de Maria, Nossa Senhora de Fátima”, disse.
Segundo este luso-descendente, para construir o santuário foi preciso “muito trabalho” e surgiram “muitas dificuldades, mas a nossa Mãe (Nossa Senhora) fez com que a construção desse templo em honra dela seja uma realidade”.
José António da Conceição explicou que “em 7 de Outubro de 2006” quando “pela primeira vez viajava a Portugal, para ver a família, que vive no Norte, perto de Espinho”, desceu até Fátima. "Na missa pedi a Nossa Senhora que me ajudasse a tornar realidade o sonho que tinha de construir uma igreja nesta localidade”.
“Não foi fácil. Houve a tentação de abandonar tudo, mas a Mãe (Nossa Senhora) sempre me consolou e ajudou-me a levantar e a continuar em frente”, frisou.
À comunidade portuguesa diz que “que tenha muito ânimo, esperança, sobretudo que fortaleça a sua fé”, uma vez que Nossa Senhora de Fátima “nos empuxa para a frente, nos dá muita força e, quando o desânimo nos invade, ela afasta-o para que avancemos”.
Por outro lado, o arcebispo Baltazar Porras explicou que se trata de “uma réplica não tão pequena do Santuário de Fátima em Portugal e a fé pode ajudar neste serviço, na promoção de tantos valores sociais, culturais, económicos, mas também com ensino e profissionalização em toda uma série de campos”.
“É importante que se torne um centro de divulgação dos valores portugueses. Porquê? Porque essa cultura (portuguesa) tem contribuído muito para a Venezuela”, disse, durante uma conferência de imprensa, após a consagração do santuário.
Segundo Baltazar Porras, a presença dos portugueses “tem sido mais forte nos últimos 70 anos”.
“Incorporaram-se no nosso meio, criaram famílias, ensinaram muitas artes e ofícios que nós venezuelanos não tínhamos, desde a gastronomia a muitas outras formas de trabalho. Por isso, só podemos estar gratos e ver que a pluralidade de culturas, o respeito e a ajuda mútua e o que se faz com alegria e sacrifício dá origem a estas obras”, disse.
O arcebispo sublinhou que gostaria de felicitar os lusitanos, em nome de toda a Igreja venezuelana, e chamou a atenção que “há coisas que podem e têm de ser feitas, mesmo no meio de circunstâncias adversas, sobretudo na atenção aos mais necessitados, a crianças, adolescentes e anciãos”.
“Que esta promoção integral humana, social, ecológica e também cristã nos torne melhores cidadãos e melhores cristãos”, concluiu.
O novo embaixador de Portugal na Venezuela, João Pedro Fins do Lago, disse à Lusa que sentiu “que estava em Fátima” e que “sentiu Fátima já mesmo antes de hoje, na primeira vez” que visitou o santuário.
“Senti essa fé e essa dedicação. Senti nos olhos e nas palavras das pessoas que estavam aqui empenhadas a construir este templo e toda a estrutura que o apoia. Senti uma grande fé”, frisou.
O diplomata sublinhou que “é essa mesma fé que se vê no Santuário de Fátima” e que “é claramente uma réplica daquilo que é a fé portuguesa e a alma portuguesa aqui nos Altos Mirandinos”.
“Hoje sentimo-nos portugueses com grande orgulho, com grande fé, com consciência da importância que têm as nossas raízes, de queixo levantado, com grande dignidade. E sentimo-nos portugueses irmãos entre os nossos irmãos venezuelanos, sentimos sobretudo uma grande comunhão”, disse.
João Pedro Fins do Lago explicou ainda que “para além do que este monumento à fé representa de solidariedade, representa também algo de muito importante para as raízes portuguesas, a nossa cultura”.
“Porque aqui, para além do templo, vamos ter um centro de português onde se vai ensinar a língua portuguesa e é também um ponto de apoio social para os portugueses carenciados nesta zona. Há, portanto, uma valência religiosa, uma valência cultural e uma social, hoje, mais do que nunca, tão necessárias à nossa comunidade”, concluiu.
Em declarações à Agência Lusa, o secretário da Associação Civil Amigos de Nossa Senhora de Fátima, Agostinho Gonçalves, explicou que “passaram 14 anos desde que a primeira pedra do santuário foi lançada e começou uma grande luta para construir uma grande obra.
Gonçalves explicou ainda que “um grupo de lusitanos e luso-descendentes apoiaram muito na construção do templo” e que sente “muita emoção, uma grande satisfação, porque a Virgem me pôs aqui e me ajudou a organizar o grupo de pessoas que conseguiram materializar isto, a consagração da Igreja a Nossa Senhora de Fátima”.
Santuário de Nossa Senhora de Fátima é "centro da portugalidade" na Venezuela
Para o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, o santuário "é mais do que um local religioso, é o centro da portugalidade, porque aquilo que foi aqui construído não são só as paredes".
Segundo Paulo Cafôfo, trata-se de “um complexo que, além de muitas valências, que vão desde a parte cultural, a educativa ou do ensino da língua, a da arte e da criatividade, é o centro de Portugal na Venezuela”.
“E, isso deve-se a esta comunidade, uma comunidade que, curiosamente, não subtraiu. Estamos a falar de portugueses que vieram para cá, para a Venezuela, mas que em vez de esquecerem Portugal, somaram Portugal à Venezuela”, frisou o político.
O dia da consagração, na quinta-feira, 13 de outubro, “é um dia que ficará na história, por esta obra ter sido inaugurada num dia também tão simbólico para quem é católico e quem tem fé”.
“Esta inauguração feita pelo senhor cardeal [Baltazar Porras], com a presença da comunidade aqui, em peso, naquela que é a sua melhor característica, que é a união e a coesão, é um momento que jamais esquecerei e tenho muita honra de ter podido participar nesta cerimónia tão forte e com tanto sentimento”, disse.
E acrescentou: “Temos aqui uma soma de afetos, de vontades, uma soma até de linguística, de culturas, que muito nos orgulha, porque os portugueses sabem construir pontes e sabem agregar cultura”.
“E isso está aqui bem demonstrado neste ambiente entre portugueses, entre venezuelanos, que acaba por ser, eu diria, duas pátrias num só povo. E isso muito me satisfaz enquanto secretário de Estado das Comunidades”, concluiu.
Também de visita à Venezuela, o presidente do Governo da Região Autónoma da Madeira, Miguel Albuquerque, disse à Lusa que sentiu um grande emoção no local.
“Achei aquela obra um exemplo, por um lado, da fé da nossa comunidade e, por outro lado, da determinação e resiliência”, afirmou.
“A capacidade de trabalho e a conclusão desta obra corresponde, de facto, a um esforço titânico por parte da comunidade”, vincou Miguel Albuquerque.
O presidente do Governo da Madeira lembrou que esteve, há 12 anos, num arraial para angariar fundos para as obras do santuário, com a cantora Vânia Fernando.
“Foi nas fundações e a obra está muito bonita e é uma demonstração de fé e um exemplo da determinação e da capacidade de alcançar os objetivos que a nossa comunidade tem, mesmo perante as maiores adversidades do país”, reiterou.
Para Albuquerque, “a Venezuela conheceu diversos ciclos, inclusivamente a pandemia [da covid-19], o ciclo da recessão económica e, mesmo assim, conseguiu construir aquele santuário fantástico, uma obra que honra o trabalho, a coragem e a determinação, o esforço e a capacidade de resistência da nossa comunidade face às adversidades”.
As autoridades religiosas venezuelanas consagraram, na quinta-feira, o santuário de Nossa Senhora de Fátima em Carrizal, a sul de Caracas, uma réplica do Santuário de Nossa Senhora de Fátima em Portugal.
A construção do santuário foi uma iniciativa da comunidade portuguesa local, à qual se juntaram imigrantes de outras nacionalidades, nomeadamente libaneses e italianos, bem como venezuelanos.
Na obra, de 22 mil metros quadrados, foram investidos até agora 19,5 milhões de dólares (19,9 milhões de euros), sendo necessários mais três milhões para a conclusão, habilitar os salões de aulas de português, de uso múltiplo, e uma casa de retiro espiritual. Por terminar estão ainda os salões de catequeses e a iluminação do estacionamento.
* Por Felipe Gouveia (texto), agência Lusa
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