“A Sociedade Portuguesa de Matemática considera não ter sido salvaguardado o interesse dos alunos por não terem sido elaboradas as duas provas que se impunham: uma para os alunos do atual programa e uma outra para os alunos repetentes, versando sobre o programa anterior. A SPM alertou em devido tempo para a inexequibilidade de uma prova única para ambos os grupos; é agora claro que a opção encontrada de apresentar itens em alternativa de acordo com cada um dos programas, antigo ou novo, se mostrou claramente inadequada, até em termos de critérios de correção”, defendeu a sociedade científica em comunicado.
Quase 45 mil alunos realizaram hoje o exame nacional de Matemática A – segundo números divulgados pelo Júri Nacional de Exames — sendo esta uma das provas mais importantes para o acesso ao ensino superior, por ser uma das que mais é pedida como requisito para entrar na maioria dos cursos científicos.
A “potencial injustiça” criada no acesso ao ensino superior preocupa a Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), que entende também que “no geral, esta prova não se adequa a nenhum dos dois programas nem tão pouco coloca todos os alunos em pé de igualdade”.
“A SPM lamenta a situação criada para milhares de alunos e respetivos professores que, desta forma, não veem devidamente valorizados o trabalho e o esforço desenvolvidos durante três anos, tendo-se assim criado uma situação de incerteza e potencial injustiça em relação ao acesso ao ensino superior”, lê-se no comunicado.
A SPM referiu que faltou ao longo do ano informação intermédia sobre o modelo de prova a aplicar, criticando o Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), organismo responsável pela elaboração e aplicação das provas e exames, que, defende a SPM, “se limitou a fornecer uma Informação Prova com contornos menos claros e que agora se verifica ter pouca correspondência com o exame”.
“Como consequência desta inédita falta de informação, os alunos — tanto do novo programa como do antigo — foram hoje confrontados com uma prova que não traduz fielmente o trabalho realizado durante os três anos do ensino secundário. A tentativa de subordinar o enunciado a dois referenciais de avaliação distintos acabou por gerar itens desequilibrados, confusos e por vezes contraproducentes do ponto de vista pedagógico”, lê-se no comunicado.
A SPM dá o exemplo de um exercício da prova, no qual se pedia “textualmente aos alunos” para “não justificar a validade do resultado obtido na calculadora”, o que a SPM defende ser a “antítese do método científico e da boa utilização da tecnologia, que deve ser sempre acompanhada de espírito crítico”.
Aponta ainda outro exercício, ao qual “os alunos do antigo programa poderiam responder a qualquer uma das alternativas apresentadas, ao passo que o novo programa apenas contempla uma delas”.
“Em termos de substância, a prova é extensa e trabalhosa, gerando-se assim uma maior complexidade relativamente a edições anteriores. Por outro lado, a vertente calculatória do tema de funções, muito trabalhada por todos os alunos, é abordada de forma extremamente superficial”, defende a SPM.
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