A mudança do Tribunal Constitucional, um aeroporto e o metro que prometeram vir e que nunca chegou. Nesta frase define-se o que a população nacional considera serem os principais factores a votos nesta eleição autárquica conimbricense.
Foi considerado pelos juízes do Tribunal Constitucional que a mudança do mesmo de Lisboa para Coimbra “contribuirá, certamente, mais para desprestigiar o órgão do que para criar uma ‘nova centralidade’ fora da capital”.
Colocando de parte a minha consideração pessoal de que um órgão judicial não deve prestar nenhuma opinião sobre uma matéria meramente política, há duas questões que me assolam: o porquê da escolha destas eleições para tal proposta ser iniciada pelo PSD, e que factores poderiam levar o nosso mais soberano órgão judicial a quebrar um protocolo de etiqueta entre os agentes do Estado.
Analisando o panorama autárquico, Lisboa é uma batalha mais do que perdida e no Porto o candidato do PSD ficará indubitavelmente abaixo de Rui Moreira e Tiago Barbosa Ribeiro. Um grande ganho de presidência de câmara só é minimamente tangível (em teoria) em Coimbra. Assim, é perceptível a vontade do PSD de elevar à discussão nacional uma proposta de benefício da cidade.
De facto, é para mim incompreensível que Coimbra, não obstante todas as falhas administrativas de mandatos socialistas consecutivos, não seja considerada uma excelente hipótese de mudança do Tribunal. Afinal, tem uma antiquíssima tradição académica e uma Universidade conceituada.
Contudo, num município onde foram fechadas escolas com contratos de associação em 2017 e só foi assegurada uma rede de transportes públicos nas freguesias visadas a escassos meses das eleições de 2021, é claro que Coimbra e os seus governantes falharam.
Numa cidade outrora industrializada, que perdeu nas últimas décadas as suas grandes indústrias, aguentando-se de pé apenas a CIMPOR, e que vive exclusivamente de serviços, é claro que Coimbra e os seus governantes falharam.
Por projetos que são interpostos na câmara terem um tempo de espera de largos meses, podendo chegar ao ano, é claro que Coimbra e os seus governantes falharam.
Quando é prometido um aeroporto numa cidade em que uma rota que demora sete minutos de carro é realizada em mais de 40 minutos de transportes públicos, é claro que Coimbra e os seus governantes falharam.
Pela habitação no centro da cidade estar refém de senhorios que praticam preços por quarto a estudantes universitários, ensanduichados em apartamentos muitas vezes com pobres condições, é claro que Coimbra e os seus governantes falharam.
E quando perante tudo isto é tornada pública uma sondagem que coloca o PS perto da maioria absoluta, é claro que o PSD, o seu erro de casting, e a mega-coligação falharam.
Manuel Machado diz recorrentemente que não se conta com ele para falar mal da cidade de Coimbra e dos conimbricenses. Por mais que me comova o amor à cidade que sussurra uma balada na hora da despedida, é óbvio que Machado só não o faz porque implicaria colocar em causa a estratégia de governação do próprio nos últimos dois mandatos que cumpriu.
Pensar, reindustrializar e valorizar (de facto, não em slogan) Coimbra exigem mais do que um executivo ultrapassado, impávido e a governar apenas para o seu eleitorado. Este texto é sobretudo entristecedor de escrever porque para uma conimbricense votante nestas eleições todas as opções de voto parecem francamente aquém dos problemas estruturais da cidade. Só não é de facto uma espada de dois gumes porque numa das pontas está um conglomerado de pessoas e partidos com plataformas altamente discordantes. Se Coimbra é uma lição, de sonho e tradição, estas eleições deixam a amarga sensação de que o sonho já está perdido, e não há quem esteja disposto a reavivá-lo.
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