Todos o sabemos, mas custa acreditar que o mundo está (mesmo) a atingir o limite da sua capacidade de auto-preservação e regeneração. São muitas as notícias (incluindo no SAPO24)  dedicadas ao relatório da ONU sobre biodiversidade, baseado na pesquisa da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que refere as espécies de animais e plantas que estão em perigo de extinção. É um novo cartão vermelho ao nosso estilo de vida.

Levar as garrafas de vinho para o vidrão já não chega.

O ciclo da vida é representado por um princípio, meio e fim. O problema é estarmos agressivamente a acelerar o fim, pela forma como arrancamos árvores pela raiz para construir, usamos a madeira ou plantações mais rentáveis, num esquema intensivo em que a agricultura não dá tempo à terra de produzir, e no qual os animais são engordados com farinhas adulteradas para os tornar grandes e gordos mais depressa para, assim, alimentar uma população que, apesar da demografia negativa nos países mais ricos, não pára de crescer.

Creio que a mensagem da sustentabilidade não passa, ou passa de forma deficiente, por uma razão muito simples: as grandes organizações ambientais e mundiais comunicam quase sempre de forma abstracta, generalizando consequências. Qual colibri, tento todos os dias e falho muitas vezes, mesmo comprando de forma mais consciente, pedindo ajuda a quem sabe, experimentando novos produtos ou receitas, mudando hábitos e esperando que um dia o mundo acorde para a calamidade em que nos encontramos, mascarada de mudança climática. Da chuva gelada ao sol de trinta graus vão dois dias e isso deveria ser suficiente para percebermos que algo está errado. Na Antárctida uma comunidade de Pinguim Imperador desapareceu. Nos Pirenéus o aparente granizo é plástico, contaminando o ar e a água. A desflorestação na Amazónia cresceu 54% desde que Bolsonaro chegou ao poder e em Moçambique as chuvas estão a abrandar mas não há precedentes para o impacto do ciclone, da mesma forma que Montreal, no Canadá, esteve em estado de emergência devido a inundações. Continuamos a confiar na sorte porque só acontece aos outros, até ao dia em que nos vai bater à porta.

Porque o mundo está (mesmo) a mudar e muito depressa, quero poder passar a comprar morangos a granel sem ouvir o comentário de que são muito frágeis, que se estragam com facilidade, ou sem ter de ir a um mercado de produtores bem longe do sítio onde moro. Poupo no plástico, mas gasto combustível e aumento as emissões de dióxido de carbono e azoto. Nunca estamos bem, não há a opção certa e voltar à idade da pedra na verdadeira acepção da palavra é apenas uma ideia parva. Mas pensar que as grandes cadeias e marcas podem ser mais honestas e menos gananciosas para que, com o seu poder económico, em vez de esmagarem pequenos produtores e os tornarem dependentes para escoar a produção, obriguem grandes marcas a encontrarem soluções para eliminar as embalagens de plástico. Podem contratar mais recursos humanos para garantir que frutos e legumes são cuidadosamente manuseados para serem entregues ao cliente, em vez de os protegerem, garantindo que o cliente se serve a si próprio sem interferência de um funcionário. Também gostava que a mercearia ao fundo da rua fizesse a diferença, que não fosse propriedade de uma dessas grandes cadeias de supermercados... Gostava, principalmente, que estivéssemos todos mais conscientes dos factos, para acreditarmos que, rejeitando algumas práticas comuns que nos prejudicam a todos e adoptando outras, podemos contribuir para a mudança. Porque sim, na sua aparente hipocrisia, um colibri pode contribuir para a mudança. Eis algumas medidas simples que podemos adoptar no nosso dia-a-dia, que servem tanto - verdade seja dita - para nos aliviar a consciência, como para dar um contributo para a mudança e a protecção do meio ambiente.

Circular: menos de automóvel, partilhar as viagens mais vezes e, sempre que tenhamos mesmo de conduzir, circular mais devagar, fazer menos acelerações à campeão. Todos somos campeões, não precisamos de o mostrar na estrada.

Comprar: menos, procurar alternativas com o que já temos, tentar trocar coisas com os amigos e, nós adultos, podemos muito bem evitar o fast fashion. Para quem tem miúdos a crescer ao ritmo das ervas daninhas será difícil porque o ritmo de substituição das peças de roupa é muito intenso e o custo das mesmas elevado. Tentar trocar e doar a roupa, passar aos irmãos e aos amigos pode ser uma forma de amenizar o problema.

Aprender: coisas novas, porque na maior parte das vezes as nossas atitudes e comportamentos resultam de pura ignorância. Eu não sabia que o vinagre de cidra de maçã era um excelente amaciador de cabelo. Aprendi. Experimentei. Apaixonei. Também fui aprender a fazer champô em casa. Uma busca simples na web resolveu-me o problema e mostrou-me um admirável mundo novo de opções com o que já tinha na despensa.

Experimentar: sem medo de falhar porque estamos juntos no processo. Aprender uma coisa nova supõe que a consigamos implementar no nosso dia-a-dia e só lá chegámos experimentando. O que é o pior que pode acontecer se o vosso champô caseiro não ficar perfeito? Deixar o cabelo mal lavado e terem de voltar ao champô normal. E o melhor? Nunca mais terem de comprar champô. Já pensaram na poupança, nas vantagens e no benefício?

Partilhar: o que fazemos e as dúvidas que temos porque do outro lado há respostas e ideias, desde que consigamos ignorar o sentimento de ridículo ou o medo do julgamento dos outros. Podemos começar agora e não há nenhum mal nisso. Ou razões para ter vergonha porque estamos sempre a tempo de perceber o que podemos melhorar na nossa vida. E na dos outros. De todos.