Quando a pandemia se torna “caso de polícia”

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

"É uma situação complicada e pode ser um caso de polícia".

Foi assim que Luís Simão, presidente da Câmara Municipal de Mora, descreveu o surto que neste momento afeta o concelho alentejano.

Surgido há uma semana, a 9 de agosto, quando foram confirmados os primeiros três casos positivos na comunidade, o surto em Mora tem vindo a crescer de uma forma que deixou as autoridades de saúde e os decisores políticos alerta.

Neste momento, contam-se 42 infeções confirmadas — havendo quatro pessoas internadas no Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), duas delas nos cuidados intensivos — ao fim de 300 testes a uma população de 2500 pessoas.

No rescaldo do surto em Reguengos de Monsaraz, Mora já implementou o Plano Municipal de Emergência para se certificar que uma vila alentejana não volta a ser notícia pelas piores razões.

Por isso mesmo, no início da semana passada, a autarquia fechou os serviços de atendimento ao público e vários equipamentos — prolongando esse fecho até sexta-feira, anunciou a suspensão das visitas aos lares de idosos do concelho e os funcionários municipais vão ser testados.

De resto, a razão para as declarações do autarca à Renascença prendem-se com o facto da doença poder ter sido propagada por um casal que veio de Espanha — o que poderá incidir num crime de propagação de doença —, espalhando-se depois por contactos sociais.

Foi também referindo-se a um “trabalho policial, de detetive” que a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, aludiu à situação em Mora, devido à investigação das cadeias de investigação, naquilo que descreveu um "surto complexo porque tem mais de 300 pessoas potencialmente envolvidas".

Claro que, nesta instância, fala-se de “trabalho de polícia” hipotético, que poderá tornar-se real quando se apurarem as causas do surto. O dia, no entanto, foi marcado por trabalho de polícia, esse sim, efetivo, motivado ou por aproveitamento quanto à pandemia, ou por tentativa de contorná-la.

Comecemos pelo segundo caso. Apesar dos sucessivos pedidos das autoridades para que não se realizem festas ou ajuntamentos onde não se assegure a segurança dos participantes, há quem insista em fazê-lo.

Tal foi o caso de uma festa com 200 pessoas em Almancil, em Loulé, que tinha sido altamente divulgada nas redes sociais por uma empresa e que prometia tudo aquilo que se podia esperar de um evento pré-pandemia: “entrada exclusiva a clientes com reserva de mesa e a localização transmitida apenas 12 horas antes do seu início, contando com diversos artistas convidados".

Os promotores do evento tanto tinham sido alertados pelas autoridades policiais como pelas de saúde para o facto de não estarem "salvaguardadas todas as medidas preventivas, de proteção e segurança exigíveis para um evento daquele género". Como tal, a GNR interrompeu a festa.

Já no que toca ao primeiro caso, tratou-se de um feirante da feira da Bouça, em Mirandela, que optou por vender de produtos para a cura da covid-19. Esta consistiria num líquido desconhecido colocado em garrafas reutilizadas e com rótulo improvisado.

Ora, sabido que tal cura ainda não existe — pelo menos uma que tenha sido cientificamente verificada —, o homem acabou por ser detido pela GNR por fraude sobre mercadorias.

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