Missão outono: Reforçar a imunidade dos mais velhos

Abílio dos Reis
Abílio dos Reis

Para a Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas, não há dúvidas: os portugueses devem estar satisfeitos pela maneira como responderam em uníssono à chamada para a vacinação de modo a fazer frente à pandemia. Tanto assim é que numa conferência de imprensa convocada para hoje à tarde, a responsável da DGS sublinhou que em Portugal o processo de "vacinação contra a covid-19 é um sucesso".

"Acho que se há momento que o país se pode orgulhar, é de facto este, em que atingimos os 85% com o esquema completo", completou.

No entanto, sublinhou outro dado que já vinha a ser reportado nalguns estudos divulgados sobre a imunização contra a covid nos mais idosos: a de que esta decai com o passar do tempo.

"O que os estudos têm indicado é que, de facto, com o passar do tempo, sobretudo nalguns grupos, há uma atenuação desta proteção. Há um decaimento dessa proteção", explica.

Quer isto dizer que os mais idosos estão desprotegidos e que a vacina perde o seu efeito com o passar dos meses? Graça Freitas foi peremptória na resposta: "É bom que se diga que as pessoas não ficam desprotegidas".

"As pessoas continuam a ter proteção. Não têm é proteção ótima, que nós queremos que elas tenham num contexto pandémico", alongou.

Quem se juntou à diretora-geral da DGS durante a conferência de imprensa foi Baltazar Nunes. Se tem assistido às reuniões do Infarmed, o nome do responsável da unidade de investigação epidemiológica do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) não lhe deve ser estranho. E, hoje, coube-lhe explicar aos portugueses que a proteção das vacinas contra hospitalização dos mais idosos cai para 60%.

Assim, em jeito de resumo:

No grupo etário dos 80 e mais anos

  • Observa-se um decaimento da efetividade contra hospitalização: inicialmente era de 80% no primeiro mês após a toma da segunda dose, para cerca 60% quatro a cinco meses após a segunda dose;
  • As vacinas apresentam uma proteção contra morte de 87% no primeiro mês após a vacinação completa, percentagem que baixa para cerca de 75% nos quatro a cinco meses seguintes.

Na casa dos 65 aos 79 anos

  • Não foi registado "decaimento da efetividade" contra a doença grave — apesar de alertar que o tempo de observação para o estudo é menor, tendo em conta que os idosos foram vacinados primeiro;
  • Três a quatro meses após a segunda dose, verifica-se uma efetividade de 95% a 93%;
  • Os dados permitem também confirmar que a proteção da vacina contra a doença ligeira é menor do que contra a doença grave. Ou seja, nos casos de doença ligeira, a efetividade atingiu um máximo de 70% a 80% no primeiro mês a seguir ao esquema completo de vacinação, mas decaiu para cerca de 30% a 40% após quatro a cinco meses.

Avaliados estes dados, não é de surpreender que a diretora-geral da Saúde anunciasse que a administração da terceira dose da vacina contra a covid-19 se inicia na próxima semana, com prioridade dada às pessoas com 80 e mais anos e utentes de lares e de cuidados continuados.

Não é que tenha sido uma novidade completamente inesperada. Afinal, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, no início da semana, já tinha anunciado que os portugueses com mais de 65 anos iam começar a ser vacinados com a terceira dose a partir de 11 de outubro.

O objetivo desta nova inoculação? "Estimular a imunidade" das doses anteriores. Como? Dando "um reforço a essa imunidade", de acordo com Graça Freitas.

Por outras palavras, esta terceira dose não significa "que as pessoas tenham perdido totalmente a imunidade"; significa, sim, que vai "reforçá-la novamente para o nível ótimo".

"É muito relevante as pessoas aderirem a esta dose de reforço, é esta dose que vai novamente estimular a sua imunidade e pô-los com um nível de proteção máxima contra doença grave, contra hospitalização e contra morte", apelou Graça Freitas, sublinhando que "não é apenas mais uma dose, mas uma garantia de proteção".

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