Há uma "Cegonha Branca" no Tejo. E esta é elétrica

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

O primeiro-ministro, António Costa, e o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, estiveram esta terça-feira na viagem inaugural do “Cegonha Branca”, um navio elétrico da Transtejo/Soflusa.

Que navio é este?

O “Cegonha Branca” é o primeiro dos dez navios elétricos que estarão a operar no Tejo até 2025.

Este navio foi entregue em março e há a expectativa de mais sete serem entregues em 2024, dos quais dois em fevereiro, permitindo assegurar a ligação fluvial entre o Seixal e o Cais do Sodré (Lisboa).

Os navios são batizados com o nome de uma ave autóctone do estuário do Tejo.

Quando vai começar a transportar passageiros?

Na próxima semana, o navio vai começar a realizar viagens experimentais já com passageiros a bordo, no trajeto entre o Seixal e o Cais do Sodré (Lisboa), segundo Alexandra Ferreira de Carvalho, presidente do conselho de administração da Transtejo/Soflusa.

Para já, estas viagens experimentais vão ajudar a aferir o tempo de duração do trajeto.

Quais as vantagens deste navio?

Para Alexandra de Carvalho, com a entrada em operação da nova frota vai ser possível reduzir a pegada carbónica, elevar os atuais padrões de conforto e a segurança dos navios e reduzir custos de manutenção.

Também António Costa defendeu que a aposta no transporte público com menos emissão de gases com efeito de estufa, que exige um conjunto de investimentos cruciais para melhorar a qualidade dos transportes públicos a esse nível.

Assim, o serviço que a Transtejo e a Soflusa prestam, segundo o primeiro-ministro, “é da maior importância e a descarbonização do serviço é mais uma contribuição para diminuir a emissão dos gases com efeito de estufa”.

“São navios mais cómodos, vão transportar mais pessoas, um ganho efetivo na capacidade de transporte com menor custo para a operação e menor custo ambiental”, disse.

Por sua vez, o ministro Duarte Cordeiro, disse que com a inauguração do navio Cegonha Branca “cumpre-se um passo fundamental para a renovação da frota da Transtejo", considerando que é uma operação que abre caminho a ganhos ambientais, mas também vantagens operacionais e sociais.

Para um navio com estas tipologias é utilizado lítio. O futuro é por aqui?

A bordo do "Cegonha Branca", o primeiro-ministro referiu que Portugal tem este minério que é crucial para a eletrificação, desde as baterias dos telemóveis aos carros do futuro e ao barco que hoje fez a viagem no rio Tejo.

“Este barco não andaria se não houvesse mineração de lítio. Esta é uma oportunidade extraordinária para o país, um país que durante muitas décadas se queixou de não ter reservas naturais. Pois desta vez temos uma das maiores reservas europeia de lítio e este é um grande recurso natural que vai valorizar a economia do país no futuro”, disse.

Nas anteriores grandes revoluções energéticas, explicou, Portugal ficou de fora porque não tinha recursos naturais. Quando foi a revolução industrial não existia carvão, quando a dominante eram os carbonos não havia nem gás nem petróleo.

Contudo, na nova transição, adiantou, Portugal tem não só o solo, o vento, o poder hidráulico como também o lítio.

Novos navios trazem novos desafios. Quais?

Esta manhã, para a realização da cerimónia de inauguração, a Transtejo teve de suprimir as ligações entre o Cais do Sodré e o Seixal das 9:40 e das 10:05 e a das 10:05 no sentido inverso.

Na informação aos passageiros disponível no site da empresa era explicado que não era possível garantir a realização de todas as carreiras previstas no período de ponta da manhã por motivo de constrangimentos técnicos.

Na verdade, o constrangimento prende-se com o facto de no Seixal, no distrito de Setúbal, só existir um pontão, que estaria ocupado pelo novo navio durante a realização da cerimónia antes da viagem inaugural.

Por outro lado, o ministro do Ambiente disse que estão em curso as obras de instalação dos postos de carregamento dos navios, estando concluídas em dezembro no Seixal, seguindo-se Montijo em fevereiro, Cais do Sodré em maio e Cacilhas em junho.

Houve alguma polémica associada a este tipo de navios?

Sim. A compra dos navios elétricos levou, em abril, à demissão da então presidente do Conselho de Administração da Transtejo, Marina Ferreira, que saiu após um relatório do Tribunal de Contas (TdC) acusar a empresa de "faltar à verdade" e de práticas ilegais e irracionais.

Em causa estava a compra de nove baterias, pelo valor de 15,5 milhões de euros (ME), num contrato adicional a um outro contrato já fiscalizado previamente pelo TdC para a aquisição, por 52,4 ME, de dez (um deles já com bateria, para testes) novos navios com propulsão elétrica a baterias, para assegurar o serviço público de transporte de passageiros entre as duas margens do Tejo.

“A Transtejo comprou um navio completo e nove navios incompletos, sem poderem funcionar, porque não estavam dotados de baterias necessárias para o efeito. O mesmo seria, com as devidas adaptações, comprar um automóvel sem motor, uma moto sem rodas ou uma bicicleta sem pedais, reservando-se para um procedimento posterior a sua aquisição”, considerou o TdC.

*Com Lusa

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