Cessar-fogo em Gaza. O fim da ilusão?

Inês F. Alves
Inês F. Alves

As notícias de sexta-feira davam conta de um "regresso promissor" às negociações para um cessar-fogo em Gaza, confirmado horas depois pelas palavras de Biden, que garantia que esta realidade estava "mais perto que nunca".

Perante o avanço das negociações, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, meteu-se num avião rumo a Israel.

Mas as esperanças de um acordo foram-se diluindo ao longo do fim de semana. Primeiro o Hamas veio dizer que o anúncio de Biden sobre um "quase" acordo eram "uma ilusão".

Prontamente, Reino Unido, França, Alemanha e Itália uniram vozes para lembrar a todos a importância deste acordo. “O que está em jogo é demasiado elevado”, avisaram.

O coro parece não ter ressoado e não tardou para que Israel viesse dizer que olhava para as negociações em curso com "otimismo prudente".

"Há esperança de que a importante pressão dos Estados Unidos e dos mediadores sobre [o movimento islamista palestino] Hamas permita que eles levantem a sua oposição à proposta americana", que contém "elementos aceitáveis para Israel", indicou um comunicado israelita.

Já este domingo, Israel acusou o Hamas de manter uma posição de "recusa obstinada", apelando a uma "pressão direta" sobre o movimento que este aceitasse os termos para o cessar-fogo.

“O Hamas tem-se mostrado obstinado na sua recusa e nem sequer enviou um representante para as negociações em Doha. Por conseguinte, a pressão deve ser dirigida ao Hamas e ao [seu líder, Yahya] Sinouar, e não ao Governo israelita”, afirmou Benjamin Netanyahu.

O Hamas, por sua vez, acusa Benjamin Netanyahu de ser o principal obstáculo a um acordo.

"Consideramos Benjamin Netanyahu plenamente responsável pelo fracasso dos esforços dos mediadores, por obstruir um acordo e pelas vidas dos reféns, que correm o mesmo perigo que o nosso povo" com os contínuos bombardeamentos na Faixa de Gaza, disse o movimento em comunicado.

Estas negociações baseavam-se num plano de três fases anunciado em 31 de maio pelo presidente americano Joe Biden.

A primeira fase prevê um cessar-fogo de seis semanas e uma retirada israelita das áreas densamente povoadas de Gaza, bem como a troca de reféns feitos pelo Hamas por presos palestinianos detidos em Israel.

Entretanto, Washington apresentou uma nova proposta de compromisso, apoiada pelo Egito e pelo Qatar, com o objetivo de “preencher as restantes lacunas”.

As negociações agora em curso procuravam garantir a libertação dos reféns israelitas sequestrados em 7 de outubro pelo Hamas e que ainda estejam vivos, além da entrada de ajuda humanitária para a população civil em Gaza. Já o Hamas exigia a retirada completa das tropas de Israel e um cessar-fogo definitivo.

Recorde-se que desde o início do conflito, em 7 de outubro de 2023, desencadeado por uma incursão brutal de milicianos islamistas do Hamas no sul de Israel, os dois lados pactuaram uma trégua apenas, no final de novembro, durante a qual trocaram dezenas de reféns sequestrados em Israel por centenas de presos palestinianos.

A palavra "fracasso" utilizada pelo Hamas hoje tem peso, porque indicia o fim da ilusão de Biden — e de todos os que há mais de dez meses sofrem com a continuidade desde conflito.

À hora em que termino este texto Antony Blinken já aterrou em Israel. Qual é o peso da palavra norte-americana neste conflito? Os próximos dias devem ajudar a responder.

* Com Lusa

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