O destino, a fatalidade, a paixão e a tragédia trazem novamente 'Carmen' ao público português, e o SAPO24 esteve presente no ensaio horas antes da estreia, esta sexta-feira.

"É uma história universal e que atrai todos os públicos, chineses, ingleses, franceses, gregos e acho que os portugueses também", destaca, em entrevista, Carmen Rubio, diretora artística do espetáculo da companhia Carmen y Matilde Rubio - Ballet Español de Murcia, que formou com a irmã Matilde Rubio.

Não é a primeira vez que trazem a companhia a Portugal com este bailado e, já em 2018, tinham enchido o Teatro Tivoli BBVA. Amor Cánovas, atualmente no papel principal, já tinha atuado por cá, porém esta é a primeira vez como Carmen.

A história é uma adaptação da obra homónima do escritor francês Prosper Mérimée, publicada pela primeira vez em 1845. Desde então, as adaptações para vários formatos de teatro, dança e cinema multiplicam-se e apaixonam gerações.

Carmen é a “a cigana mais bonita, mas sem coração”, tal como descreveu Amália Rodrigues em ‘Carmencita’, uma música baseada na mesma obra, e vive uma paixão arrebatadora com Don José, cabo do exército que é fiel aos seus deveres militares. Mas, por amor, o militar torna-se desertor, salteador e assassino. Depois disso, a protagonista não consegue viver com os sentimentos divididos e acaba a apaixonar-se por Escamillo, um famoso toureiro. Monta-se então um triângulo amoroso que irá acabar num desastre fatal.

"O público português não é muito de dança, mas tem proximidade com o público espanhol, que é um público que gosta de ver paixão e interpretações fortes. Carmen é isso tudo, em especial é um espetáculo sobre paixão", diz a diretora.

A antiguidade da peça, segundo a diretora da companhia, é apenas um número: "É uma história do final do século XIX, mas o tema hoje no século XXI é totalmente atual. Fala sobre a luta pela liberdade da mulher, a independência e o empoderamento acima de tudo. É sobre o direito da mulher a decidir com quem quer estar e quem quer amar não por obrigação. É um tema totalmente atual".

Amor Cánovas salienta ainda que considera esta uma peça feminista, em especial no seu papel. "O escritor escreve na obra que a Carmen prefere morrer do que não ser livre", refere a artista.

Sobre a preparação para este tipo de espetáculos que correm cidades pelo mundo fora, Pablo Egea, que interpreta o papel de Don José, explica que os treinos são muito apertados e a horas do espetáculo continuam a ensaiar, especialmente num palco novo.

Já Cánovas sublinha que a maior preocupação é colocar-se "dentro da pele daquela mulher, saber como se sentia e como se expressa". Além disso, sublinha a necessidade de ler e perceber a obra. O resto é "trabalho de equipa em conjunto com a diretora", equipa esta que é composta por 18 bailarinos, nove homens e nove mulheres, que dançam em profunda sincronização.

"Este é um espetáculo com muito sentimento, e por isso estamos sempre a trabalhar cada momento individualmente. É atuar e dançar ao mesmo tempo", acrescenta Pablo.

'Carmen'
Amor Cánovas - Carmen; Carmen Rubio - Diretora artística; Pablo Egea - Don José créditos: 24

O protagonista diz-se honrado por estar no Teatro Tivoli, um dos maiores de Lisboa. "O chão aqui é maravilhoso e podemos ouvir o bater dos sapatos e das castanholas em todo o espaço".

Na companhia também são amantes de fado e lembram as semelhanças com o bailado que interpretam. Para Pablo Egea, é inegável notar as semelhanças entre o fado e a música da Andaluzia, onde nasce o flamenco.

"A música é muito diferente, mas o mais importante é o sentimento e o fado transmite o mesmo tipo de sentimento que a música espanhola. Também temos música espanhola sobre dor e por isso o sentimento é igual e talvez isso aproxime os portugueses do nosso bailado". sublinha a diretora artística.

Este triângulo amoroso vai estar no palco do Teatro Tivoli BBVA até este domingo, dia 9 de junho, e ainda existem vários bilhetes à venda aqui. Custam entre os 20 e os 40 euros e ainda existem lugares disponíveis nas próximas três sessões.

A companhia já esteve quase no mundo inteiro e foi premiada em El Cante de la Minas, pela Universidade Rey Juan Carlos, pelo Instituto Universitário Alicia Alonso e pela Câmara Municipal de San Lorenzo del Escorial. Em 2010, ganhou o Prémio Cultura da 7TV e Onda Regional e um ano depois o Prémio Nacional 'Cultura Viva'.