A peça surgiu de uma encomenda do Quarteto Contratempus ao escritor Mário João Alves, que tinha como premissa “as questões tecnológicas”, explicou o encenador após um ensaio para os jornalistas.
“O Mário João pensou numa estrutura que, de alguma maneira, nos pusesse a questão destes dois mundos, destas duas realidades, que vivem paralelas: o mundo virtual, que não existe, existindo ‘versus’ a realidade tal qual a conhecemos”, disse Durães.
Esta dualidade entre os dois mundos desenvolve-se a partir de Jeremias, personagem interpretada pelo ator Crispim Luz, um “sedutor” que não é mais que o “revisitar do mito do D. Giovanni”.
“Aqui, o nosso D. Giovanni seduz no mundo virtual a partir do momento que deixa o mundo real, para se ligar aos jogos”, acabado por seduzir “personagens um tanto ao quanto estranhas, como a Maria Antonieta decapitada”, ilustrou.
Embora tenha sido casado, Jeremias conduz a história através de uma série de mulheres que vai seduzindo e, posteriormente, abandonando.
Como consequência do abandono surge outra personagem, uma psicóloga, interpretada pela atriz Brenda Vidal Hermida, que articula a peça resolvendo “os traumas das mulheres abandonadas”.
“A própria mãe do Jeremias, com o seu amor incondicional, tem acompanhado o filho, resolvendo-lhe todos os problemas da vida real, como a alimentação. Portanto, a soma das personagens femininas são as sete mulheres de Jeremias. As seduzidas e as mulheres da vida dele — mãe e esposa”, explicou.
As tecnologias que deram mote ao libreto são também utilizadas em palco, uma vez que, numa parceria com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, o espetáculo inclui uma luva que, em cena, tem a capacidade de manipular em tempo real som, imagem, e luz.
A luva resulta “de uma soma de sensores” de movimento e posição, que “deteta e guarda frases musicais”, voltando a repeti-las em “momentos imprevistos”, disse o encenador.
“As Sete Mulheres de Jeremias Epicentro” foi coproduzida com o Teatro Municipal do Porto e conta com texto original de Mário João Alves, composição de Jorge Prendas e encenação de António Durães.
A obra contou ainda com o apoio da Direção-Geral das Artes, a Fundação GDA e a Fundação Calouste Gulbenkian.
A estreia está marcada para sábado, 16 de setembro, às 19:00, repetindo-se o espetáculo no domingo, pelas 17h00. O encenador prevê ainda que o “espetáculo fará uma turné pelo país, mas o circuito “ainda não está determinado”.
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