De acordo com um relatório anual de atividades do Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física (PNPAF) da Direção-Geral da Saúde (DGS), os centros de saúde "aumentaram em 25% a monitorização e avaliação da atividade física dos utentes", no sentido de combater a sedentarização da população.
O facto de os utentes avaliados mais do que uma vez denotarem uma tendência para o aumento do nível de atividade física, e decréscimo do tempo sentado, sublinha a importância desta avaliação como "forma de consciencialização da população para a prática de atividade física".
O documento faz um ponto de situação sobre as principais estratégias para a promoção da atividade física (AF) implementadas pelo programa da DGS em 2022. Além do crescimento das avaliações, com apoio de ferramentas digitais, "a emissão de guias de Aconselhamento Breve aumentou 21%, em relação ao ano anterior".
A avaliação dos níveis de atividade física e comportamento sedentário, bem como o aconselhamento breve realizado pelos profissionais de saúde, é possível, desde o final de 2017, com o apoio de ferramentas digitais desenvolvidas especificamente para o efeito.
Ao SAPO24, a DGS explica que o "conjunto de ferramentas pretende facilitar o aconselhamento breve para a promoção da atividade física de utentes adultos (i.e. maiores de 18 anos), sendo que, com base na avaliação do nível de atividade física do utente, podem ser disponibilizados vários recursos", como uma "Guia para a Atividade Física" que inclui "estratégias para se tornar mais ativo no dia a dia e reduzir o comportamento sedentário".
Um "Auxiliar de Decisão para utentes inativos e que não consideram ainda começar a prática, este instrumento pretende ajudar a pessoa a identificar razões relevantes para se tornar mais ativa fisicamente, identificando também barreiras e fatores facilitadores, um ponto fundamental para ser possível colocar em marcha estratégias para gerir as barreiras identificadas".
Será também efetuado um "Plano de Ação" quando o utente demonstrar interesse em "tornar-se mais ativo fisicamente". O plano serve essencialmente para "ajudar a pessoa a traçar objetivos" e "definir uma estratégia" de implementação da atividade.
Por último, o "Plano de Manutenção" para os utentes que "apresentem níveis de atividade física" será incluído no plano "algumas sugestões e estratégias para que o interesse pela prática possa ser mantido". Estes instrumentos foram desenvolvidos para serem autoexplicativos e, mesmo na ausência de grande enquadramento durante a consulta, poderem ser explorados e experimentados livremente.
De acordo com os registos, quase um terço dos utentes com mais de 15 anos atingia a recomendação de 150 minutos semanais de atividade física, sendo os valores progressivamente mais reduzidos em idades mais avançadas.
"Dados acumulados desde 2017-2022 revelam que a mediana de prática de atividade física de intensidade moderada por parte dos utentes avaliados era de 120 minutos por semana na categoria etária dos 15 aos 29 anos; 70 minutos por semana na categoria etária dos 30 aos 69 anos; e 40 minutos por semana na categoria etária dos 70 anos ou mais, sendo inferior nas mulheres (50 minutos) comparativamente aos homens (90 minutos)", explica a DGS.
"Mais se verifica que, à semelhança de estudos representativos da população, o nível de atividade física semanal diminui com o aumento da idade – a prevalência de utentes que não pratica qualquer atividade física de intensidade moderada é superior na categoria etária dos 70 anos ou mais, enquanto que a prevalência de utentes que pratica, pelo menos, 150 minutos por semana varia de forma oposta, sendo superior nas camadas mais jovens – e difere consoante o sexo – sendo os homens mais ativos ao longo de todo o ciclo de vida", dá conta a Direção Geral de Saúde.
Estes dados referem-se apenas aos utentes que se inscreveram no programa, nos respetivos centros de saúde, não sendo representativo da população em geral.
"Não foram feitos ainda testes estatísticos para averiguar a representatividade, no entanto, dada a heterogeneidade de perfis de pessoas que acedem aos cuidados de saúde primários, trata-se de uma amostra bastante heterogénea nas suas características", respondeu ainda a DGS.
Três quartos dos adultos em Portugal faz atividade física
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 71,2% dos adultos portugueses cumpre as recomendações de atividade física definidas em 2020 pela Organização, mostra um estudo hoje apresentado, contradizendo o panorama ‘negro’ do último Eurobarómetro.
Os números da população portuguesa em 2018 aproximam-se muito mais de um panorama em que adultos cumprem atividade física e desportiva segundo os critérios da OMS, explicou à Lusa o professor catedrático Luís Bettencourt Sardinha, que encabeça o Laboratório de Exercício e Saúde da Faculdade de Motricidade Humana (Universidade de Lisboa). De acordo com o especialista, os números obtidos por fenotipagem digital, “com acelerómetros que se colocam à cintura”, avaliam objetivamente se a pessoa fez mais ou menos atividade física, e a sua intensidade, comprovam estes números.
A amostra total, que inclui também crianças e adolescentes e pessoas idosas, ascende a 6.369 pessoas, tendo sido feito um comparativo com 2008, primeira altura em que a tecnologia foi usada pelo consórcio, que agrega ainda as universidades do Porto, Coimbra, Évora e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
“Isso significa que Portugal faz parte de um grupo muito pequeno, que inclui Estados Unidos, Suécia e Canadá, com esta avaliação objetiva em dois momentos diferentes. Outros países já estão a utilizar esta tecnologia da fenotipagem digital, vamos chamar-lhe assim, ou seja, caracterização digital. Porque não fica dependente de questionários. Não fica dependente da interpretação das pessoas”, avança.
No Dia Mundial da Atividade Física, em que são apresentados os dados recolhidos pelo Sistema de Vigilância e Monitorização da Atividade Física e Desportiva numa sessão na Faculdade de Motricidade Humana, Bettencourt Sardinha nota que em 2018, 15,4% das crianças e jovens e 30,6% de pessoas idosas em Portugal cumpriam também com os mesmos parâmetros da OMS.
“Definem que, para as crianças e adolescentes, é um valor médio semanal de 60 minutos de atividade física moderada a vigorosa. O acelerómetro, com os algoritmos, calcula isto. Nos adultos e idosos, é um valor médio semanal de atividade física moderada de pelo menos 150 minutos”, acrescenta.
Olhando para a questão por género, “as raparigas, comparativamente com os rapazes”, são menos ativas, nas idades mais baixas, e nos adultos os homens “tendem também a ser mais ativos”, com um aumento de 7% na década analisada, contra 5% nas mulheres, e nos idosos há uma tendência inversa no masculino, com uma quebra de cerca de 8%.
O Eurobarómetro divulgado no final de 2022, nota o professor catedrático, decorreu com base num questionário telefónico e com pouco mais de mil pessoas, afirmando que 73% dos adultos “não realiza exercício ou algum tipo de atividades desportivas”.
“Está bem descrito na literatura: tem a ver com a forma como cada pessoa interpreta as perguntas. A metodologia é similar em todos os países, do Eurobarómetro, mas diferenças de natureza cultural podem ter um viés sobre como dada pergunta é interpretada”, comenta.
De forma simples, “será que quando se faz a pergunta a um português, a uma pessoa que caminha e faz diferentes atividades, diz que não? E um sueco ou um finlandês?”.
“Se calhar dizem que sim, tem a ver com a perceção. Para um português, se calhar é o andebol e o voleibol” que contam, analisa.
Além do trabalho tecnológico, foi colocada a mesma pergunta do Eurobarómetro, e os investigadores notaram que 56% das mulheres e 72% dos homens dizem que não realizam atividade física, mas cumprem com os valores do OMS, o que pode ajudar a explicar a diferença entre abordagens.
A fechar, o professor catedrático deixa a recomendação de que mais países possam ter um sistema que integre e otimize “instrumentos de avaliação objetiva envolvendo tecnologias digitais”, para que “todas as recomendações e sistemas mundiais de informação” assentem em “bases sólidas” das práticas nacionais.
Os resultados, hoje apresentados em Lisboa, foram publicados num artigo divulgado na Medicine & Sciense in Sports & Exercise, publicada pelo American College of Sports Medicine, dos Estados Unidos, estabelecida em 1969 e com revisão de pares, após um trabalho financiado também pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ).
*com Lusa
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