No fim da Via Sacra as hordas de jovens espalham-se por Lisboa. Eles e as suas bandeiras deixam a Colina do Encontro e vão em festa e celebração para outras paragens. É nesta peregrinação que nos cruzamos com Arne, um alemão, de quase 1,90 metro que tem pendurada na mochila uma bandeira que chama à atenção no meio de todas as outras, a bandeira LGBTQIA+.

Arne faz parte "de uma Igreja de estudantes na Alemanha" e, para o universitário, não há dúvidas: "a Igreja tem que ser aberta a todas as orientações sexuais, para todos os seres sexuais". Segundo Arne a Igreja deve sê-lo não porque é um sinal dos tempos, mas porque o cristianismo a isso obriga. "Porque toda a gente é amada por Deus, e Jesus ama toda a gente independentemente de quem ama e como ama", explica.

Questionado se tem conhecimento das principais polémicas que envolvem a comunidade LGBTQIA+ na JMJ, responde sem demoras: "Não sei, mas já imagino que seja algo violento contra a comunidade LGBTQ".  Episódios como o do jovem que hasteava uma bandeira transexual ter sido censurado  e uma missa de católicos LGBTQIA+ ter sido perturbada por invasores católicos conservadores, que invadiram a igreja paroquial de Nossa Senhora da Encarnação, na Ameixoeira, em Lisboa, dão-lhe razão.

Perturbado depois de ouvir as histórias, mas não espantado, atira: "acho que a posição do Papa Francisco é o contrário disso". "´É ser aberto a todos na Igreja. e a Igreja ser aberta a todos", afirma, vincando enfaticamente que o contrário disso "não é a minha Igreja, não é a Igreja do Papa Francisco".

O Papa Francisco disse e repetiu nesta Jornada Mundial de Juventude que a Igreja é de "todos", repetindo o "todos" para enfatizar, e esta sexta-feira disse aos jovens para não terem medo de amar. Numa entrevista à publicação espanhola Vida Nueva Digital, disse que "os transexuais são filhos de Deus".

Arnne tem dificuldade em formular a segunda parte do argumento, por lhe ter custado o que ouviu. "Não é para ser radical, protestar contra pessoas que estão numa Igreja... a rezar... que são parte da Igreja... eu acho que é uma coisa muito... muito má". Mas não perde a esperança: "adorava que houvesse mais católicos a posicionar-se contra isso e a favor do amor, qualquer tipo de amor".

Arne é um homem cisgénero heterossexual, mas diz fazer parte da comunidade LGBTQIA+ como aliado. "Tenho orgulho em usar esta bandeira porque quero mostrar que há um lugar para todos na Igreja, e que deve haver". Ainda ninguém lha tentou tirar, mas tem uma suspeita sobre as razões para que não tenha acontecido, "talvez pelo meu aspeto", afirma. E confessa que durante a JMJ, já viu a "acontecer a outras pessoas. Pessoas a tentar destruir bandeiras, roubar, ou partir as hastes".  "Invariavelmente toda a gente com quem me tenho cruzado com bandeiras são alemães como eu. A Igreja na Alemanha vive uma bolha progressista, vê estas coisas desta forma".