Na passada quarta-feira, o atual presidente da Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) do PS e presidente da Câmara Municipal de Loures, Ricardo Leão, defendeu, numa reunião pública, o despejo “sem dó nem piedade” de inquilinos em habitações municipais que tenham participado nos distúrbios na periferia de Lisboa.
Em declarações à agência Lusa, João Soares, presidente da Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) do PS entre 1992 e 1994, considerou que Ricardo Leão teve “um momento menos feliz nesse dia”, mas defendeu o autarca, salientando que, “evidentemente, há momentos menos felizes para todos”.
“Eu conheço-o desde o tempo em que ele foi parlamentar – eu também era parlamentar nessa altura -, e é uma pessoa que eu respeito, que tem feito um belíssimo trabalho no terreno e que é apegado aos valores que são valores fundadores para nós, socialistas”, salientou, defendendo que “não há nenhum socialista que possa ser acusado de posições extremistas, radicais, seja de extrema-direita ou de extrema-esquerda”.
O também antigo ministro da Cultura considerou que o facto de o PS, na Câmara Municipal de Loures, ter aprovado uma recomendação do Chega para permitir despejar das casas municipais quem, comprovadamente, participou ou incentivou crimes, foi uma “asneira política”, mas, questionado se considera que Ricardo Leão tem condições para continuar à frente da FAUL, respondeu: “Claro que sim, eu apoiei-o e continuo a apoiar”.
“Penso que tem condições e é uma pessoa que me dá garantias de respeito pelos valores fundamentais da democracia e de respeito pelos direitos humanos e, portanto, em circunstância alguma um autarca socialista proporia uma coisa que não tem cobertura legal nenhuma”, afirmou, acrescentando que se “revê inteiramente” nas declarações do secretário-geral do PS sobre este caso.
“O Pedro Nuno Santos já o disse: há momentos menos felizes e esse foi um momento menos feliz, em termos do exercício de responsabilidades na Câmara Municipal de Loures. Mas há um reconhecimento claro disso ao mais alto nível no partido e há confiança num homem que é um homem do terreno e que tem provado a sua capacidade de servir as populações, nomeadamente as mais humildes”, disse.
João Soares defendeu ainda que este caso é “uma narrativa que está aí a ser construída para eventualmente facilitar a vida ao Governo em outras questões que são importantíssimas, nomeadamente o facto de ninguém do Governo ainda ter ido aos bairros onde houve uma série de problemas”.
Contactados pela agência Lusa, outros antigos presidentes da FAUL de Lisboa não quiseram comentar as declarações de Ricardo Leão.
Na quinta-feira, Ricardo Leão esclareceu que defende o despejo de inquilinos de habitações municipais que tenham sido condenados e o caso transitado em julgado, assegurando que o município “irá sempre cumprir a lei”.
Entretanto, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, considerou que Ricardo Leão teve um momento menos bom, mas que não o define, e assinalou que todos os eleitores do PS estão comprometidos com a lei.
“Todos nós, na nossa vida, nas nossas profissões, temos momentos, temos melhores momentos e momentos piores. Isso não nos define. O que nos define é o nosso contínuo, é o nosso trabalho ao longo do tempo e o trabalho que o Partido Socialista e o presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão, tem realizado em Loures é um trabalho muito importante”, destacou.
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