Num discurso no Palácio Nacional da Ajuda, num jantar oferecido ao Presidente francês, Emmanuel Macron, no âmbito da sua visita de Estado a Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que Donald Trump “rompeu com a orientação do seu antecessor [Joe Biden] e com toda a política externa desde a Segunda Guerra Mundial”.

“Questionou a soberania do Canadá, aliado na NATO e na Ucrânia" e, por consequência, o rei do Reino Unido, outro aliado tradicional. "Questionou a administração da Dinamarca, outro aliado na NATO e na Ucrânia, na Gronelândia. Afirmou o objetivo de paz o mais rápido possível na Ucrânia, assente no entendimento preferencial com a Federação Russa e sem intervenção europeia”, elencou.

O chefe de Estado português abordou depois a postura de Donald Trump no que se refere à guerra na Ucrânia, considerando que tem “mesclado ataques ao Presidente ucraniano, enunciando condições russas para acordo, com a não admissão da legitimidade do Presidente ucraniano, a não adesão futura à NATO, pondo mesmo em causa as fronteiras internacionalmente fixadas”.

No que se refere à União Europeia (UE), Marcelo salientou que, além de Donald Trump ter rejeitado a sua participação nas negociações de paz para a Ucrânia, também acenou com o “desinvestimento norte-americano no apoio existente” ao continente e “no apoio para a [sua] segurança após a guerra”.

Marcelo deixou ainda críticas às declarações do vice-presidente dos Estados Unidos, J. D. Vance, na Conferência de Segurança de Munique, alegando que se pronunciou “sobre a situação política interna dos Estados da União e interveio em pleno processo eleitoral num desses Estados”, referindo-se à Alemanha.

“Isto são factos. Perante eles, só não vê quem não quer ver”, disse, antes de acrescentar que os Estados Unidos e os seus atuais governantes “têm base eleitoral interna para quererem mudar radicalmente a posição do anterior poder político”.

“Mas não têm necessariamente legitimidade jurídica internacional para atacar a soberania de parceiros, aliados e amigos, para intervir na sua integridade territorial, para preferirem fazer a chamada paz com a Federação Russa e seus aliados, sem a UE, e até para reduzirem o papel da Ucrânia a uma sujeição máxima e soberania mínima”, disse.

Numa palavra, prosseguiu Marcelo, “os Estados Unidos da América parecem, neste momento, ter decidido favorecer a Federação Russa e seus aliados, na situação existente na Ucrânia, em detrimento da UE”.