Os bifes e as carnes que afinal eram dinheiro

Gonçalo Lopes
Gonçalo Lopes

O julgamento da Operação Vórtex, que tem dois ex-autarcas de Espinho, Miguel Reis e Joaquim Pinto Moreira, como principais arguidos, acusados de crimes de corrupção, prosseguiu esta sexta-feira no Tribunal de daquela cidade.

O outro principal suspeito é o empresário Francisco Pessegueiro, acusado de ter pago verbas aos dois ex-autarcas, ele que confirmou já que os mesmos lhe pediam "taxas" para agilizar alguns projetos.

O que aconteceu hoje?

Francisco Pessegueiro continuou a ser ouvido em tribunal. Bem cedo pela manhã, o empresário foi interrogado pelo seu advogado, pretendendo esclarecer alguns assuntos abordados na véspera, nomeadamente uma conversa tida com um outro empresário, Paulo Malafaia, também ele um dos arguidos.

"Quando Paulo Malafaia lhe pergunta quanto é que quer de bifes, se 50 ou 100 quilos. Está a falar de dinheiro?”, perguntou o advogado João Medeiros.

“Neste caso estou a falar de dinheiro”, confessou Francisco Pessegueiro.

E o que Pessegueiro tinha dito ontem?

Na quinta-feira, primeiro dia do julgamento, o arguido foi questionado pela procuradora do Ministério Público sobre uma conversa telefónica com Paulo Malafaia. Na mesma, este empresário do ramo imobiliário perguntou lhe: "Quanto queres em bifes?" e Pessegueiro diz "50 quilogramas".

Após esta conversa, Pessegueiro marca então um encontro com Pinto Moreira, a quem o MP acusa de ter recebido 50 mil euros do empresário. Este, contudo, quinta-feira, disse que os "50 quilogramas" "eram mesmo bifes e carnes". Refira-se que Pessegueiro é também proprietário de uma cadeia de talhos com o mesmo nome.

Eram então 50 mil euros de "taxa"?

Não. De acordo com o empresário, este valor que quinta-feira "eram mesmo bifes e carnes" e esta manhã já era "dinheiro" não era para usar como qualquer tipo de suborno.

Francisco Pessegueiro revelou em tribunal que os 50 mil euros eram parte de uma comissão de 350 mil euros devida a Malafaia.

Esclarecimento foi suficiente?

Também não, sobretudo para o juiz, que revelou que a explicação não fazia sentido.

Este salienta que se foi o promotor Paulo Malafaia a questionar "quanto queres em bifes?", qual seria a razão de ser este, quem pergunta, a ser pago por Pessegueiro.

"Há aqui um grão de areia", disse o juiz após a justificação do empresário.

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