Tínhamos combinado encontrarmo-nos com o nosso guia na praça do Outeiro, em frente aos correios. O dia sorriu-nos, o céu está limpo, o sol queima o pescoço, não há uma ponta de vento. Nem a brisa marítima chega ao centro da vila do Corvo, só o perfume do mar, esse é incontornável, qualquer que seja o tempo que se faça sentir na ilha.
“Acho que é o dia mais quente do ano”, diz-nos Orlando assim que nos vê. “E ainda agora é manhã”, acrescenta Márcio Lázaro, antigo professor de matemática da ilha que voltou para rever os amigos e que nos vem, também, acompanhar.
Hoje, o Corvo não é diferente de Lisboa, Porto ou Barcelona. A ilha mais pequena do arquipélago dos Açores não escapou ao turismo, uma inevitabilidade dos tempos modernos, para o bem e para o mal, e vê-se obrigada a pensá-lo. Por um lado, não quer multidões, nem pode querer. Por duas razões: a primeira, as infraestruturas facilmente ficariam saturadas; a segunda, aquilo que é genuíno na ilha ficaria de vez em risco. Ao mesmo tempo, quer-se colocar fim ao turista tipo que existe na ilha nos dias de hoje, aquele que está a visitar a vizinha Flores, ‘dá um salto’ ao Corvo e vai ao caldeirão para dizer que cá esteve.
E se é verdade que o caldeirão da ilha pode ser considerado um dos mais belos do arquipélago, em grande medida por nunca ter sido tocado pela mão do homem, à exceção de uns pequenos muros de pedra que delimitam alguns terrenos na encosta norte da cratera do vulcão que originou a ilha, os habitantes garantem que há muito mais para ver.
O Corvo parece demasiado pequeno para ter segredos escondidos, pelo menos à primeira vista. Mas eles existem, muito para lá do caldeirão. Garantiram-nos que Orlando Rosa, o carteiro da ilha, seria uma das melhores pessoas para nos guiar. Primeiro porque é o carteiro, e o carteiro numa vila pequena como esta torna-se rapidamente conhecedor dos seus segredos, segundo, porque gosta de, nos seus tempos livres, percorrer trilhos no meio da natureza.
A história do carteiro do Corvo dificilmente poderia ser uma história má. É nesta vila, onde tanta gente diz que começa ou acaba Portugal, ignorando que a placa do ponto português mais a oeste esteja erguida na ilha das Flores, que acabam os códigos postais, que as casas não têm número - atenção, eram para ter, mas o autarca à época, o senhor Manuel Rita, agora dono do Hotel Comodoro, quando recebeu os algarismos para colocar à frente de cada edifício decidiu guardá-los em armazém. Achou que isso daria um ar mais rústico à vila... e porque, afinal de contas, toda a gente se conhecia.
Orlando Rosa nasceu na ilha do Pico, cresceu no Faial e veio aqui parar por amores. “A minha ex-mulher trabalhava ao balcão e eu trabalhava de carteiro. Viemos aqui fazer a comissão de serviço de um ano. Havia duas vagas e a gente como era um casal, e ela era de cá, decidimos vir. O tempo foi passando e já estou aqui há 21 anos”, conta.
“No primeiro dia de trabalho, cheguei à estação, peguei nas cartas, olhei para elas e não fazia ideia de onde é que entregava cada uma. Aqui as cartas são assim: nome da pessoa e Corvo, não há números de porta nem nada. Olhava para aquilo e não se parecia com nada. Quem nos ajudou muito, na altura, foi um colega nosso da PT que era de cá”, relata.
A partir daí era uma questão de memorizar nomes e de os associar às respetivas casas. Orlando conta que desenhou as ruas e os nomes das pessoas por habitação. “Levava o papel para casa para tentar decorar. Levei mais de um mês a decorar as pessoas daqui. Para um gajo que não é de cá foi um pincel”, ri-se.
Assim se fez carteiro do Corvo, o Orlando. Caminheiro, isso já era, mas confessa-nos que a paixão pela natureza se adensou quando apareceu “a bióloga”. De seu nome Bárbara, veio de Barcelona, de Espanha, para a ilha por “cinco ou seis meses” para trabalhar na Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves. Orlando conheceu-a logo nessa altura, “comentei uma foto dela no Facebook, que ela partilhou na reserva, a dizer “oh lá, chegou uma ave rara", conta. E a partir daí as coisas aconteceram. Hoje em dia namoram e ela já está no Corvo há quatro anos, agora no Ecomuseu.
Orlando já foi a Barcelona. Gostou, conta que esteve “na costa brava” e que andou por “praias muito malucas”, mas que lhe fez falta o verde. Como açoriano, tem uma grande ligação a esta combinação única de azul e verde, a esta natureza tão própria. “Os Açores têm um contraste diferente. O ar aqui é diferente. A minha namorada esteve agora em Espanha, foi operada em março, e dizia que saía à rua e que o ar era parado. Sentia falta do vento dos Açores, aqui a gente varia muito o clima. Em Lisboa nota-se logo, entro no metro e parece que estou numa câmara de gás”, conta.
“O stress aqui é não ter stress, então ao fim de semana pego no lanche e nuns binóculos e vou explorar a ilha até aquelas escarpas em que se olha para baixo e só se vê mar”. Assim se fez aventureiro, o Orlando que há de ser muitas outras coisas, porque não é pessoa de ficar parado.
Já tirou um curso de mergulho, curiosamente no dia em que conheceu Paulo Portas, que andava por estes lados em campanha. "Ele veio pelo menos duas vezes ao Corvo fazer campanha, aqui de porta em porta. E tem cá uma memória... A primeira vez que cá veio, veio de barco e eu lembro-me que estava a tirar o curso de mergulho no cais, a aprender a mergulhar com a garrafa. Estava a tirar o equipamento na ilha das Flores e ele andava lá a falar com as pessoas. Depois, à noite, num jantar, eu cheguei mais tarde, e o pessoal parecia que tinha medo dele então eu sentei-me mesmo em frente a ele. Estivemos até a falar de mergulho e tudo. Passados quatro anos ele veio cá, deu-me um aperto de mão e a primeira coisa que me disse foi: 'então, o curso de mergulho correu-lhe bem?'. Quatro anos depois, lembrava-se!", exclama.
Bem, não nos vamos alongar mais. Voltaremos a dar-lhe voz, mas por agora as apresentações estão feitas. Este é o nosso guia. A promessa: levar-nos onde os turistas não vão. Mas primeiro, há que contemplar aquilo que nunca ninguém deve ou pode deixar de visitar: o caldeirão.
1. O Caldeirão
2. A Cara do Índio
3. Da Vigia da Baleia
4. No fim da ribeira da Rocinha
5. O Pão de Açúcar
6. A Casa do Austríaco
1. O Caldeirão, o rosto da ilha
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No Corvo não há carros disponíveis para aluguer, por isso só há três formas de chegar lá acima: ou a pé, “é uma caminhada ainda de algumas horas”, diz Orlando, ou à boleia, “se nos metermos à beira da estrada alguém nos leva”, ou numa carrinha turística que faz o trajeto da aerogare até lá acima. Nós servimo-nos da generosidade das pessoas da ilha, mais concretamente do presidente da Câmara Municipal, e seguimos num carro emprestado.
Eu sei que já dissemos, mas vale a pena sublinhar que o dia estava magnífico, simplesmente arrebatador. Em qualquer ilha dos Açores isto é digno de evidência, aqui a meteorologia é uma autêntica roleta russa. Entre o azul do céu e o azul do mar, entre o verde do caldeirão e do monte que desce em direção à vila, eram vários os tons diferentes das mesmas duas cores. Lá em cima, a cratera do vulcão extinto exibe-se no máximo esplendor como se tivesse sido avisada que naquele dia ia ser fotografada para aparecer no jornal: o caldeirão largo, os lagos no meio contornados a verde, a encosta norte recortada pela erosão a abrir vista para o oceano.
Orlando diz-nos que a erosão afetou muito a ilha ao longo dos anos, que o vento e o mar têm vindo a “recortar” as escarpas. “Dizem que antigamente a ilha era muito mais arredondada”, conta-nos.
Contemplamos a paisagem e o nosso guia vai-se perdendo nos pormenores. “Estão a ver entre aquelas duas lagoas? Não dá para ver bem daqui, mas há um ligeiro desnível. Está ali um murinho de pedra que era de um antigo moinho de água que aproveitava a diferença de altura entre os lagos. Tem lá as paredes todas, a água passa por baixo. Acho que o deviam restaurar, ficava bonito. Os homens foram deixando de o usar, provavelmente por causa dos acessos mais difíceis”.
A água nas lagoas reflete o céu, está de um azul apetitoso. Pergunto se a água é boa, se dá para se ir a banhos. A expressão do nosso guia quase que me servia de resposta, mas acrescentou: “dá, claro que dá. Não afunda, é tipo argila dura. Já tomei banho aqui. É muito boa a água”.
Poucos minutos depois perdemos o monopólio daquela vista com a chegada de um carro. Vinha cheio de turistas. Chegaram, demoraram-se nas fotografias e depois desceram o caldeirão.
“Há uns anos um deputado quis fazer um caminho no caldeirão e o Ambiente não deixou. Se começassem a ir carros lá para baixo estragavam tudo. Fazer isto assim, a pé, é porreiro e os estrangeiros querem isto”, garante Orlando.
Antes de vir trabalhar para cá, Orlando já vinha passar alguns períodos ao Corvo. Na altura vivia no Faial, mas vinha cá ter com a família da sua ex-mulher. Foi nessa altura, recorda, que tirou a sua primeira fotografia no caldeirão. "Havia pelo menos 10 cavalos lá em baixo. Tinha vindo até cá no carro do dr. Cardigos, e quando ia a descer eles vinham a correr à minha frente. Ainda consegui tirar uma foto porreira. Era quase tudo raça lusitana, mandados vir do continente. Nas outras ilhas vês cavalos mais pequenos, mas aqui são todos encorpados. Antigamente lavravam-se as terras com cavalos de boas raças. Agora andam por aí livres, não trabalham nada.”, comenta.
O caldeirão está visto. Embora não tenha havido tempo para descer até lá abaixo, mergulhar naquele pedaço de natureza pura onde predomina o silêncio, apenas interrompido pelo cantar dos pássaros. Usámos o drone para dar-lhe a volta. Assumimos a batota e seguimos viagem.
2. A Cara do Índio, o trilho mais do que a escarpa
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Estamos a chegar junto à cancela, perto da Cova Vermelha, onde começa o trilho da Cara do Índio quando o nosso guia insiste que avancemos mais um pouco de carro para vermos o lado de fora do caldeirão que dali se ergue quase como um estádio coberto de pasto. O caminho de terra batida fazia-se junto a uma encosta, por cima de longos prados verdes que só terminam no mar.
As vacas preenchem a paisagem que outrora se fazia de ovelhas e cabras. Chegaram com os subsídios da União Europeia e empurraram, literalmente, as cabras para as encostas. Hoje, são selvagens e difíceis de ver, quase sempre escondidas nos cantos mais recônditos da ilha.
No Corvo, a partir do momento em que se começa a subir a estrada até ao caldeirão, dificilmente encontramos uma paisagem em que não se veja uma única vaca. Às vezes até nos sítios mais inusitados. Para Orlando é normal, aliás, estranho seria o contrário. Conta que um dia, numa viagem à ilha da Madeira quase que “bateu mal” por ter passado tantos dias sem ver uma. “Aquilo para um açoriano…”, brinca. “Não encontrava uma vaca que fosse. Então peguei no carro e fui a Porto Moniz e finalmente pude dizer: 'estava a ver que me ia embora e não via uma vaca'".
Retomamos o caminho e começamos o trilho da Cara do Índio. Atravessamos um longo prado e em poucos minutos estávamos sobre a escarpa que dizem exibir a cara de um índio de perfil. Márcio admite ser um pouco cético, “mais depressa aquela rocha ali ao lado me faz lembrar uma vaca deitada, com a dose certa de imaginação”, ri-se.
Orlando chama-nos a atenção para trás. “Aquela rocha que faz o arco, para mim, é mais bonita do que a cara do índio. Aquilo é natural. Foram-se desgastando os terrenos e a rocha mais dura foi ficando ali”, diz.
A rocha é coberta por várias espécies de plantas endémicas, cedro, cubres, urze... Orlando enumera-as. “No Pico, a urze fica quase da altura de uma casa e que aqui parece um arbusto, como apanha muito vento não cresce. E acredita que estas devem ter 30 ou 40 anos. Aquela ali chama-se festuca, antigamente faziam pincéis para pintar as casas com cal com aquela planta”, diz.
O caminho faz-se pelas pastagens e depois de se chegar à primeira escarpa não se perde mais o mar de vista. Pelo caminho, montículos isolados de pedras revelam-se poços de água, construções agrícolas, pequenas covas com fundo em terra batida que servem para reter e armazenar a água da chuva, que chega até ali em sulcos traçados no terreno.
De lado, uma encosta coberta de cedros, diz o Orlando que com a madeira desta árvore, dobrada nesta encosta devido ao vento forte, se tirava madeira para fazer os barcos baleeiros. "Aqui tem uma boa mata dele, é um dos sítios onde as pessoas que mais vêm ver pássaros gostam de estar. Os pássaros vêm das tempestades da América e a primeira zona onde aparecem mais e param é nesta florestazinha", diz.
Segue-se pelo trilho que começa a descer em direção à vila. É um miradouro desconhecido, de uma beleza enorme. Daqui vê-se a ilha toda, contida naquela fajã com o mar e o monte a rebentarem à sua volta.
Daqui, a pista do aeroporto ainda parece mais ameaçadoramente pequena do que no momento da nossa aterragem. Talvez porque não tenhamos vivenciado a aterragem que Orlando viveu há uns anos, a melhor da ilha, diz.
“O Dash 400 aterrou em 200 metros. Está no YouTube, mete: aterragem do dash no Corvo. [Nós metemos, foi isto que nos deu.] Estava muito vento, aterrámos ali um bocadinho antes da passadeira e virámos logo para a aerogare. Não acreditas? Houve malta que filmou nesse dia porque estava muito vento direito e eles usaram o motor e o vento para aterrar. Saí desse voo e disse ao Zé, que antes trabalhava ali na SATA: "este gajo fez a melhor aterragem do Corvo!". E ele diz-me "não, esta é a segunda vez", ri-se.
O trilho desemboca na estrada que se ergue da vila até ao caldeirão e as pernas pesam. Temos sorte, está a passar naquele momento o senhor José Maria Fonte da Nova. Subimos para a caixa aberta da sua pick up e apanhamos boleia até ao centro.
3. Da Vigia da Baleia vê-se o infinito
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“É bonito, não é?”, pergunta-nos o Orlando como quem tem ainda uns quantos trunfos na mão prontos a arrebatar este. Paramos para almoçar, pegamos no carro e vamos até ao antigo posto da vigia da baleia, hoje um miradouro para o oceano imenso, onde as grandes embarcações intercontinentais substituem os mamíferos gigantes. Imaginar aqui alguém há várias décadas sozinho, longe das casas, a fitar apenas o oceano à espera que aparecesse uma baleia... as dimensões são absurdas, um homem para o oceano. Parece que dali se vê o infinito.
4. No fim da ribeira da Rocinha, onde se avista as Flores
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Andamos mais para o lado. Esta costa da ilha, mais abrigada dos ventos tem outra flora. Aqui as árvores não dobram com o vento. Os terrenos estão repletos e só o traçar de uma ribeira agora seca no verão permite descobrir um caminho. “O Corvo, quando foi descoberto, era todo assim. Dizem que demorou um ano a arder. A Madeira demorou sete e o Corvo um”.
O mato é denso. Pelo meio apanham-se os morangos silvestres sob a orientação do Orlando que nos explica os que são bons e maus pela forma como vergam o caule.
Sem qualquer aviso, o arvoredo abre-se, a sinfonia do cantar de pássaros que nos acompanhou desde que começámos o caminho evapora-se para dar lugar ao som da água a bater nas rochas. Damos por nós pendurados numa escarpa, um grupo de cabras selvagens passa ali, em baixo de nós, numa pedra da largura de um pequeno casco. “Vejam as Flores, daqui é bonita a paisagem”, diz-nos o nosso guia pendurado, já só com a água debaixo dele.
5. O Pão de Açúcar, o local mais lindo da ilha a seguir ao caldeirão
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Saltamos de costa em costa. Da zona da Rocinha vamos para o Pão de Açúcar, para o Orlando, o local mais lindo da ilha a seguir ao caldeirão. Subimos um descampado atrás dos armazéns municipais. Do topo uma baía enorme, ornamentada ao centro por uma agulha vulcânica compõe uma paisagem que se prolonga pela escarpa da ilha.
“Tudo lava do vulcão... escórias e isto fica aqui onde tinha o magma duro. Isto já foi há milhões de anos, depois a água e a chuva foram desgastando e foi ficando a parte mais dura. Isto era o que vinha do interior. Por isso é que se chama pão de açúcar”.
Conta que uma vez veio para aqui com a namorada durante uma tempestade, “o mar bateu naquela rocha com tal força... vagas enormes, umas atrás das outras, a espuma cobriu aquilo tudo e eu deixei de ver a agulha. E isto tem uma altura do caraças".
“Não percebo porque é que os turistas não vêm cá”, suspira enquanto fita a paisagem: "a coisa que eu não me imagino é sem o mar. O mar é uma atração do caraças. Ficar longe do mar para mim é impensável. A gente está habituado ao som, ao cheiro, à comida, às lapas, ao peixe..."
De repente quebra-se o momento de contemplação, o nosso guia atira-se ao chão, sobre uma das encostas. Tem a certeza que ali há um ninho de cagarros, os pássaros que à noite fazem a banda sonora da ilha. O Paulo, o homem da máquina fotográfica, não perdeu muito tempo a pendurar-se e a tentar apanhar o pássaro. Confere, estava lá.
6. A Casa do Austríaco
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Ali ao lado, ainda no morro do Pão de Açúcar, está uma casa de um austríaco que tentou viver fora da vila. Mal damos por ela, parece que faz parte da escarpa, só as duas janelas a denunciam.
Quando Orlando se mudou para o Corvo, já este habitante da Europa Central vinha à ilha só passar as férias de verão. “Ele dava-se muito bem com o resto das pessoas da ilha, tinha uma casa na parte antiga da vila. Ele não dormia aqui, só nos fins de semana. Os primeiros postais do Corvo foram com fotos feitas por ele, mas ele neste momento vive na Áustria. Queria-se conectar com a natureza”, conta, salientando que antigamente a casa não estava assim consumida pela vegetação.
Procurámos o homem através das redes sociais e ele cedeu-nos a única fotografia que tinha disponível dessa casa, ele no topo dela, diante do oceano. Tudo aqui é assim, de pé diante da água, como se fosse tudo cristos reis prontos a abraçá-lo. Faz parte da vida da ilha.
O Orlando tem de ir, combinou ir comer umas lapas com os amigos. Mas antes deixa-nos uma última dica para uma última paisagem: tão bonito como o início é o fim do dia no caldeirão. Aconselha-nos a voltar lá acima antes de o sol se pôr. A paisagem volta a ser deslumbrante, agora pintada a outros tons. O céu em tons de rosa, o mar em tons de azul que se apagam gradualmente até serem só um, até não conseguirmos distinguir onde acaba oceano e começa o céu.
Unem-se os contornos, cai a temperatura e o Corvo repousa naquele esplendor no meio do Atlântico como se ali acabasse e começasse o mundo, toda a natureza, tudo ao mesmo tempo.
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